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Apologia à pobreza ou defesa dos pobres?

Apologia à pobreza ou defesa dos pobres? 662w6s

No próximo dia 13 de novembro, em comunhão com o Papa Francisco e com toda a Igreja, celebraremos o VI Dia Mundial dos Pobres. O tema deste ano foi tirado da segunda carta de São Paulo aos coríntios e nos recorda que “Jesus (…) fez-Se pobre por vós” (2 Cor 8, 9). 5o3i56

Por que celebrar o Dia dos Pobres? Para se fazer uma apologia à pobreza? Uma forma de condenar os ricos e suas riquezas? Um vitimismo diante da prosperidade de outrem? Não! Celebramos o Dia dos Pobres para sermos fiéis a Jesus Cristo e a seu Evangelho da vida para todos. Estar ao lado pobres é uma opção cristológica, evangélica! Os Evangelhos nos mostram que Jesus viveu numa sociedade marcada pela presença de um grande número de pessoas empobrecidas, doentes, marginalizadas, condenadas, invisibilizadas. Jesus não se fechou a nenhuma delas e a nenhuma outra. Ele acolheu mulheres, homens, estrangeiros, ricos, crianças, notórios pecadores públicos, etc. No entanto, Ele escolheu estar mais perto dos mais sofridos, dos mais fragilizados, dos mais vulneráveis, dos mais indefesos, para que ao encontrá-los e acolhê-los pudesse salvá-los. E aos verdadeiros seguidores de Jesus se exige que façam a mesma escolha. É preciso acolher, defender e caminhar lado a lado com aqueles que o status quo ignora, rejeita e mata!

Por que o Papa Francisco instituiu um dia para celebrarmos os pobres? Para nos alertar sobre o tipo de sociedade que estamos construindo. Uma sociedade que defende princípios que agridem a vida humana e a vida do planeta, que vem se esquecendo que a cooperação entre todos é o que nos manterá vivos. Que a vida só resiste se se mantiver numa grande teia de cooperação. Nos alertar sobre o modelo político-econômico defendido pelos possuidores de fortunas astronômicas que privilegia uma ínfima minoria e deixa à margem da existência centenas de milhões de seres humanos.
No primeiro catecismo da Igreja, a Didaqué (c. 150), podemos ler: “Não rejeites o indigente; põe tudo em comum com ele e não digas que teus bens são próprios” (4,8).

Na Tradição da Igreja, os chamados Padres Patrísticos reafirmaram o ensinamento do Evangelho:
“Eu sei que Deus nos deu licença para usar das coisas materiais, mas dentro dos limites do necessário, e Ele quer que esse uso seja comum a todos”. “É um absurdo e indecente que um só goze da vida de luxo, enquanto a maioria está ando necessidade” — (São Clemente Romano in O Pedagogo). Em uma homilia do ano 200 São Clemente disse: “Qual rico pode salvar-se? Quem amontoa dinheiro coloca-o num saco furado. Assim acontece com quem recolhe e esconde a colheita, e nada compartilha do que é seu com quem a necessidade”.

São João Crisóstomo (séc. V) diz: “Deus nunca fez uns ricos e outros pobres. Deu a mesma terra para todos. A terra é toda do Senhor e seus frutos devem ser comuns. As palavras ‘meu’ e ‘teu’ são motivo e causa de discórdia. A comunidade dos bens é uma forma de existência mais adequada à natureza que à propriedade privada’ (in Homilia sobre 1Tm 12,4).
São Gregório de Nissa (+394) dizia: “Em algumas casas, quais oficinas de Mamom, as pessoas comem até vomitar, enquanto lá fora, uma multidão de Lázaros, os amigos de Jesus cobertos de feridas, são expulsos a pauladas pelos serventes e corridos a dentadas pelos cães”

São Gregório de Nazianzo (+390) afirmava: “Quando damos aos indigentes o que eles precisam, estamos lhes devolvendo o que lhes pertence e não é nosso. Mais do que misericórdia, estamos fazendo justiça, pagando uma dívida (in Patrem tacentem propter plagam grandinis, 18 PG 35,957).

A Igreja reconhece o direito à propriedade privada, mas reconhece também que ela deve ter uma função social, ou seja, deve estar a serviço da construção de uma sociedade justa para todos. No parágrafo 180 da Fratelli Tutti o Papa Francisco nos diz: “Reconhecer todo ser humano como um irmão ou uma irmã e procurar uma amizade social que integre a todos não são meras utopias […] Com efeito, um indivíduo pode ajudar uma pessoa necessitada, mas, quando se une a outros para gerar processos sociais de fraternidade e justiça para todos, entra no ‘campo da caridade mais ampla, a caridade política’”.
É preciso que rezemos com o autor do livro dos Provérbios (30,7-9): “Duas coisas eu te pedi; não mas negues antes de eu morrer: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem riqueza, nem pobreza, concede-me o meu pedaço de pão; para que não seja eu saciado, e te renegue, dizendo: ‘Quem é Javé?’ Não seja eu necessitado e roube e blasfeme o nome de Deus”.

Num tempo e realidade que nos desafiam enormemente sobre que tipo de mundo queremos construir, fiquemos com Jesus que fez-Se pobre para nos enriquecer e, como nos disse Dom Pedro Casaldáliga: “Na dúvida, fique ao lado dos pobres”.

Virlene Mendes 5w5o5m
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