Maio começa com a comemoração do Dia do Trabalho e é uma ocasião oportuna para refletirmos sobre o sentido cristão do trabalho, com o objetivo de nos conscientizar do valor do trabalho humano e de nos sensibilizar sobre a dura realidade do desemprego. 47454n
Trabalho é toda atividade física ou intelectual realizada por uma pessoa. Criado à imagem de Deus, o homem é chamado a cuidar da obra da criação e a transformar a terra pelo trabalho de suas mãos e de sua inteligência. Desde o princípio, portanto, o homem é chamado ao trabalho. Por isso, o trabalho é um direito e um dever de toda pessoa em condições de trabalhar.
O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas; num certo sentido, ele constitui a própria natureza humana. Não se pode entender o homem sem o trabalho. Daí que a compreensão do trabalho, numa visão cristã, é de suma importância para a solução dos inúmeros e gritantes problemas sociais de nossa época, especialmente o desemprego.
O direito ao trabalho faz com que a pessoa de bem se disponha a procurar um emprego para garantir sua sobrevivência com dignidade. Assim sendo, costuma-se identificar trabalho e emprego. No entanto, há emprego sem trabalho – como o do funcionário fantasma – e há trabalho sem emprego – como o da dona-de-casa que trabalha o dia todo sem receber salário. O trabalho – entendido como emprego remunerado, de tempo integral e estável, com direito a descanso semanal e férias anuais – está diminuindo cada vez mais. O número de desempregados ou subempregados no mundo é de mais um bilhão de pessoas. Dados do IBGE indicam que há no Brasil mais de dez milhões de desempregados. A ironia está no fato de que, ao mesmo tempo em que cresce o desemprego, persiste o trabalho escravo, embora não se consiga apurar os números reais de trabalhadores escravos e identificar suas vítimas.
O desemprego prejudica mais alguns grupos humanos: os jovens, as crianças, os negros, as mulheres e os de meia idade. Os jovens constituem a metade do total dos desempregados. Parece absurdo, mas se exige experiência de trabalho, comprovada em carteira, ao jovem que quer entrar para o mercado de trabalho. Enquanto isso, muitas crianças, desde cedo, têm de trabalhar para complementar a renda familiar porque os pais estão desempregados ou subempregados. Os negros, vítimas de cruel discriminação, têm imensas dificuldades de conseguir emprego, são mal remunerados e facilmente despedidos. Entre as mulheres verifica-se taxa maior de desemprego do que entre os homens. Geralmente recebem menos que os homens pelo mesmo trabalho. As pessoas de meia idade só com muita sorte conseguem emprego.
A perda do emprego causa verdadeira desestabilização na pessoa, que a por sérias consequências psicossociais. Psicólogos especializados neste campo dizem que a perda do emprego tem efeito semelhante ao da morte de um parente. Pode levar à depressão e até ao suicídio. O emprego tem relação direta com o bem-estar físico.
O desemprego tem consequências sobre a orientação da vida, por ser uma perda irreparável. O desempregado se sente desligado do mundo e diminuído em sua capacidade de agir. Muitas vezes se sente culpado, atribuindo a situação à incompetência ou à falta de adaptação. Seguem-se a isso: alcoolismo, conflitos familiares, separação de casais. O desempregado torna-se assim presa fácil da manipulação de pessoas inescrupulosas. A situação de desemprego cria insegurança em todo cidadão e abala os fundamentos da própria sociedade.
O desemprego atinge a dignidade da pessoa e a estabilidade da família e de toda a sociedade, tornando inviável a solução de muitos problemas que a própria sociedade precisa resolver. O desemprego agrava a situação de pobreza em que vive boa parte do povo brasileiro.
O desemprego provoca ainda o deslocamento das pessoas em busca de emprego, afasta-as de suas raízes culturais, atinge a harmonia familiar, abala a autoconfiança das pessoas, infunde-lhes sentimento de culpa e a perda dos vínculos sociais. Por causa do desemprego, crescem na sociedade as tensões sociais, o clima de violência e as pessoas que não têm renda própria, aumentando a dependência de bens produzidos por um número cada vez menor de trabalhadores.
O desemprego é sinal e fator de exclusão social. Ele fere a ética, pois impede a vida digna. Contradiz o projeto divino, no qual o homem e a mulher são imagem e semelhança de Deus. Contradiz também o princípio da destinação universal dos bens para que todos tenham vida digna.